sexta-feira, 18 de maio de 2012
Fernando Pessoa
Boa noite pessoal, esta noite trouxemos ao blog um documentário sobre Fernando Pessoa. Será muito interessante conhecermos novos aspectos da vida e obra deste grande autor sob uma nova perspectiva pelo meio audiovisual.
sábado, 5 de maio de 2012
Curiosidades sobre Fernando Pessoa
Olá leitores do blog Literatura com Fernando Pessoa, hoje trazemos a vocês algumas curiosidades a respeito deste gênio da literatura. Já conhecemos um pouco a respeito de Pessoa e de seus três principais heterônimos vistos do aspecto literário, agora vamos conhecer um pouco a pessoa de Fernando Pessoa.
- Em 1903, Pessoa candidatou-se à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Na prova de exame para a admissão, não obteve uma boa classificação, mas tirou a melhor nota entre os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Recebeu por isso o Queen Victoria Memorial Prize («Prémio Rainha Vitória»).
- Fernando Pessoa possuía ligações com o ocultismo e o misticismo, salientando-se a Maçonaria e a Rosa-Cruz (embora não se conheça qualquer filiação concreta em Loja ou Fraternidade destas escolas de pensamento), havendo inclusive defendido publicamente as organizações iniciáticas, no Diário de Lisboa, de 4 de fevereiro de 1935, contra ataques por parte da ditadura do Estado Novo. O seu poema hermético mais conhecido e apreciado entre os estudantes de esoterismo intitula-se "No Túmulo de Christian Rosenkreutz".
- Tinha o hábito de fazer consultas astrológicas para si mesmo. Realizou mais de mil horóscopos (de acordo com a sua certidão de nascimento, nasceu às 15h20; tinha ascendente Escorpião e o Sol em Gémeos).
- Entre pseudónimos, heterónimos e semi-heterónimos, contam-se 72 nomes.
- Numa tarde em que José Régio tinha combinado encontrar-se com Pessoa, este apareceu, como de costume, com algumas horas de atraso, declarando ser Álvaro de Campos, pedindo perdão por Pessoa não ter podido aparecer ao encontro.
- Ophélia Queiroz, sua namorada, criou um heterônimo para Fernando Pessoa: Ferdinand Personne. "Ferdinand" é o equivalente a "Fernando" em alguns idiomas e "Personne" significa "ninguém", sendo um trocadilho pelo fato de Fernando, por criar outras personalidades, não ter um eu definido.
- Cecília Meireles foi a Portugal, para proferir conferências na Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa, em 1934. Um grande desejo seu era conhecer o poeta de quem se tinha tornado admiradora. Através de um dos escritórios para o qual trabalhava o poeta, conseguiu comunicar-se com ele e marcar um encontro. Esse encontro ficou fixado para o meio-dia, mas ela esperou inutilmente até as duas da tarde, sem que Fernando Pessoa desse o ar de sua presença. Cansada de esperar, Cecília voltou ao hotel e teve a surpresa de encontrar um exemplar do livro Mensagem e um recado do misterioso poeta, justificando que não comparecera porque consultara os astros e, segundo seu horóscopo, “os dois não eram para se encontrar”. Realmente, não se encontraram, nem houve mais muita oportunidade para isso, já que no ano seguinte Fernando Pessoa faleceu.
- Fernando Pessoa é o primeiro português a figurar na Plêiade (Collection Bibliotèque de la Pléiade), prestigiada coleção francesa de grandes nomes da literatura.
- Fernando Pessoa morreu no dia 30 de Novembro de 1935 de problemas hepáticos, aos 47 anos na mesma cidade onde nasceu. Nos últimos momentos da sua vida pediu os óculos e clamou pelos seus heterônimos. A sua última frase foi escrita no idioma no qual foi educado, o inglês: I know not what tomorrow will bring ("Eu não sei o que o amanhã trará").
sexta-feira, 27 de abril de 2012
Mais exercícios!!!
Então pessoal, como falamos ontem, aqui está o gabarito das questões, espero que tenham acertado:
1-a
2-b
E aqui vão mais duas questões, só pra continuarmos no ritmo de aprendizado.
Até a próxima postagem.
Bons estudos!!!
Exercícios sobre Fernando
Pessoa e seus heterônimos:
1- “Olho
o Tejo, e de tal arte Que me esquece olhar olhando, E súbito isto me bate De
encontro ao devaneamento — Que é ser — rio, e correr? O que é está-lo eu a
ver?”
As relações
entre o homem e a natureza sempre estiveram presentes nas obras literárias. Nos
versos acima, de Fernando Pessoa, ortônimo, a visão do rio
Tejo produz, no eu-lírico do poema:
a)
indiferença, porque não gera nenhuma reflexão.
b) oposição entre a sua alma e a do rio.
c) saudade, visto ter sido o Tejo a porta de saída
dos portugueses para as grandes conquistas.
d) integração com a natureza que o leva a refletir
sobre a existência e a contemplação do rio.
e) desilusão, porque o homem está matando o rio.
Resposta: D
2- I. “Ah, o mundo é
quanto nós trazemos. Existe tudo porque existo”.
II. “Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade. Sei que o
mundo existe, mas não sei se existo”.
Lendo comparativamente os dois fragmentos, e considerando
a proposta poética pessoana, pode-se afirmar que:
a)
Tanto em Alberto Caeiro como em Fernando Pessoa “ele mesmo”, o eu é sempre uma
identidade “fingida”.
b) Há uma espécie de neo-romantismo em Fernando Pessoa,
devido ao centramento no eu.
c) Observa-se uma permanência do naturalismo do século
XIX, devido ao naturismo de Caeiro.
d) Em ambos, observa-se uma mesma relação entre o eu e o
mundo.
Resposta: A
quinta-feira, 26 de abril de 2012
EXERCÍCIOS
Hoje, para exercitamos um pouco do que estamos aprendendo sobre Fernando Pessoa e seus heterônimos, vamos começar respondendo a essas duas questões, amanhã segue o gabarito.
Boa sorte!!
1) Assinale a alternativa correta a respeito das três afirmações abaixo.
I – Os heterônimos de Fernando Pessoa nascem de um múltiplo desdobramento de sua personalidade.
II – Alberto Caeiro é o poeta que se volta para o campo, procurando viver em simplicidade.
III – Ricardo Reis é um poeta moderno, que do desespero extrai a própria razão de ser.
b) Todas estão corretas.
c) Apenas a I e a III estão corretas.
d) Nenhuma está correta.
e) Apenas a II e a III estão corretas.
2) Os excertos a seguir são de autoria de dois dos muitos heterônimos de Fernando Pessoa:
“Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical
- Grandes trópicos humanos de ferro e fogo e força -
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro, ”.
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“Negue-me tudo a sorte, menos vê-la,
Que eu, stóico sem dureza,
Na sentença gravada do Destino
Quero gozar as letras”.
Os heterônimos em questão são respectivamente:
a) Alberto Caeiro e Bernardo Soares
b) Ricardo Reis e Alberto Caeiro
c) Bernardo Soares e Antonio Mora
d) Álvaro de Campos e Ricardo Reis
e) Antônio Mora e Alvaro de Campos
REFERÊNCIAS:
http://simplesmenteportugues.blogspot.com.br/2009/04/literatura-3-serie-do-ensino-medio.html
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Álvaro de Campos
Fernando Pessoa criou Álvaro de Campos que ficou conhecido como o maior heterónimo do poeta. Segundo Pessoa Álvaro nasceu em 1890, estudou engenharia mecânica, formou-se em engenharia naval e viveu na Escócia, morreu em 1935.
Uma curiosidade sobre esse poeta, Álvaro foi o único entre as criações de Pessoa que apresentou três diferentes fases em sua obra, sendo assim passou pelo decadentismo, depois pelo Futurismo e, por último, pela chamada
Fase Abúlicólica .
Segundo o site Prof2000, segue a biografia completa desse poeta.
Álvaro de Campos surge quando Fernando Pessoa sente “um impulso para escrever”. O próprio Pessoa considera que Campos se encontra no extremo oposto, inteiramente oposto, a Ricardo Reis”, apesar de ser como este um discípulo de Caeiro.
Campos é o “filho indisciplinado da sensação e para ele a sensação é tudo. O sensacionismo faz da sensação a realidade da vida e a base da arte. O eu do poeta tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir.
Este heterónimo aprende de Caeiro a urgência de sentir, mas não lhe basta a sensação das coisas como são: procura a totalização das sensações e das percepções conforme as sente, ou como ele próprio afirma “sentir tudo de todas as maneiras”.
Engenheiro naval e viajante, Álvaro de Campos é configurado “biograficamente” por Pessoa como vanguardista e cosmopolita, espelhando-se este seu perfil particularmente nos poemas em que exalta, em tom futurista, a civilização moderna e os valores do progresso.
Cantor do mundo moderno, o poeta procura incessantemente “sentir tudo de todas as maneiras”, seja a força explosiva dos mecanismos, seja a velocidade, seja o próprio desejo de partir. “Poeta da modernidade”, Campos tanto celebra, em poemas de estilo torrencial, amplo, delirante e até violento, a civilização industrial e mecânica, como expressa o desencanto do quotidiano citadino, adoptando sempre o ponto de vista do homem da cidade.
TRAÇOS DA SUA POÉTICA
- poeta modernista
- poeta sensacionista (odes)
- cantor das cidades e do cosmopolitanismo (“Ode Triunfal”)
- cantor da vida marítima em todas as suas dimensões (“Ode Marítima”)
- cultor das sensações sem limite
- poeta do verso torrencial e livre
- poeta em que o tema do cansaço se torna fulcral
- poeta da condição humana partilhada entre o nada da realidade e o tudo dos sonhos (“Tabacaria”)
- observador do quotidiano da cidade através do seu desencanto
- poeta da angústia existencial e da auto-ironia
1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)
- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações
- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia
- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)
- abulia, tédio de viver
- procura de sensações novas
- busca de evasão
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“E afinal o que quero é fé, é calma/ E não ter estas sensações confusas.”
“E eu vou buscar o ópio que consola.”
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2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS
-FUTURISTA/SENSACIONISTA
Nesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.
- celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna
- apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina
- exalta o progresso técnico, a velocidade e a força
- procura da chave do ser e da inteligência do mundo torna-se desesperante
- canta a civilização industrial
- recusa as verdades definitivas
- estilisticamente: introduz na linguagem poética a terminologia do mundo mecânico citadino e cosmopolita
- intelectualização das sensações
- a sensação é tudo
- procura a totalização das sensações: sente a complexidade e a dinâmica da vida moderna e, por isso, procura sentir a violência e a força de todas as sensações – “sentir tudo de todas as maneiras”
- cativo dos sentidos, procura dar largas às possibilidades sensoriais ou tenta reprimir, por temor, a manifestação de um lado feminino
- tenta integrar e unificar tudo o que tem ou teve existência ou possibilidade de existir
- exprime a energia ou a força que se manifesta na vida
- versos livres, vigorosos, submetidos à expressão da sensibilidade, dos impulsos, das emoções (através de frases exclamativas, de apóstrofes, onomatopeias e oxímoros)
· Futurismo
- elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)
- ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional
- atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida
· Sensacionismo
- vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)
- sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)
- cantor lúcido do mundo moderno
3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMO
Perante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).
O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.
- caracterizada pelo sono, cansaço, desilusão, revolta, inadaptação, dispersão, angústia, desânimo e frustração
- face á incapacidade das realizações, sente-se abatido, vazio, um marginal, um incompreendido
- frustração total: incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento; e mundo exterior e interior
- dissolução do “eu”
- a dor de pensar
- conflito entre a realidade e o poeta
- cansaço, tédio, abulia
- angústia existencial
- solidão
- nostalgia da infância irremediavelmente perdida (“Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!”, Aniversário)
TRAÇOS ESTILÍSTICOS
- verso livre, em geral, muito longo
- assonâncias, onomatopeias (por vezes ousadas), aliterações (por vezes ousadas)
- grafismos expressivos
- mistura de níveis de língua
- enumerações excessivas, exclamações, interjeições, pontuação emotiva
- desvios sintácticos
- estrangeirismos, neologismos
- subordinação de fonemas
- construções nominais, infinitivas e gerundivas
- metáforas ousadas, oximoros, personificações, hipérboles
- estética não aristotélica na fase futurista
-
Linhas Temáticas
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Expressividade da linguagem
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" O canto do Ópio;
" O desejo dum Além;
" O canto da civilização moderna;
" O desejo de sentir em excesso;
" A espiritualização da matéria e a materialização do espírito;
" O delírio sensorial;
" O sadomasoquismo;
" O pessimismo;
" A inadaptação à realidade;
A angústia, o tédio, o cansaço;
" A nostalgia da infância;
" A dor de pensar.
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Nível fónico
a) Poemas muito extensos e poemas curtos;
b) Versos brancos e versos rimados;
c) Assonâncias, onomatopeias exageradas, aliterações ousadas;
d) Ritmo crescente/decrescente ou lento nos poemas pessimistas
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Nível morfossintáctico
a) Na fase futurista, excesso de expressão: enumerações exageradas, exclamações, interjeições variadas, versos formados apenas com verbos, mistura de níveis de língua, estrangeirismos, neologismos, desvios sintácticos;
b) Na fase intimista, modera o nível de expressão, mas não abandona a tendência para o exagero.
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Nível semântico
a) apóstrofes, anáforas, personificações, hipérboles, oximoros, metáforas ousadas, polissíndetos.
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sexta-feira, 13 de abril de 2012
quinta-feira, 12 de abril de 2012
O Pagão, Ricardo Reis.
Ricardo Reis;
Ricardo Reis (19 de setembro de 1887) é um dos três heterônimos mais
conhecidos de, Fernando Pessoa, tendo sido imaginado de relance pelo poeta em
1913 quando lhe veio à ideia escrever
uns poemas de índole pagã.
Este personagem de Fernando
Pessoa teria sido criado em 1912. Pessoa considera este heterônimo como o
primeiro que a ele se revelou, ainda que não tenha sido o primeiro a iniciar a
sua atividade literária. Ricardo Reis estaria latente desde o ano de 1912, mas
só em março de 1914 o autor das Odes iniciaria a sua produção. Em outro texto,
Pessoa afirma que Ricardo Reis “nasceu” dentro dele em 1914. Também a respeito
da biografia do heterônimo Fernando Pessoa apresenta dados distintos, ora diz
que nasceu em Lisboa, ora no Porto. De
acordo com Pessoa, Ricardo Reis foi educado em um colégio de jesuítas,
recebendo, pois, uma formação clássica e latinista e imbuído de princípios
conservadores, elementos que são transportados para a sua concepção poética.
Reis é marcado por uma profunda
simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na aceitação da
relatividade de todas as coisas. Médico de profissão, o heterônimo era
monárquico, fato que o levou a se auto-isolar por anos no Brasil. Na sua biografia não consta a sua morte, no entanto José
Saramago fez uma intervenção sobre o assunto no livro “O ano da morte de Ricardo Reis”, situando a morte de Reis em 1936.
Sobre as Obras;
As primeiras obras de Reis foram publicados em 1924, na
revista Athena, fundada
por Fernando Pessoa. Mais tarde foram
publicados oito odes, entre 1927 e 1930, na revista Presença, de Coimbra. Os restantes poemas e prosas são de
publicação póstuma.
Sua obra apresenta um epicurismo triste, uma vez que busca o prazer relativo,
uma verdadeira ilusão da felicidade por saber que tudo é transitório. A apatia,
ou seja, a indiferença constitui o ideal ético, pois, de acordo com o
Poeta, há necessidade de saber viver com calma e tranquilidade, abstendo-se de
esforços inúteis para obter uma glória ou virtude, que nada acrescentam à vida.
Ricardo Reis refugia-se na aparente felicidade pagã que lhe atenua o
desassossego. Procura alcançar a quietude e a perfeição dos deuses, desenhando
um novo mundo à sua medida, que se encontra por detrás das aparências. Afirma
uma crença nos deuses e nas presenças quase-divinas que habitam todas as
coisas. Afirma que os homens se devem considerar "deidades exiladas",
com direito a vida própria.
Considera que sendo o destino "calmo e inexorável" acima dos
próprios deuses, temos necessidade do autodomínio, de nos portarmos
"altivamente" como "donos de nós-mesmos", construindo o
nosso "fado voluntário". Devemos procurar, voluntariamente,
submetermo-nos, ainda que só possamos ter a ilusão da liberdade.
Pagão por caráter e pela formação helénica e latina, há na sua poesia
uma actualização de estoicismo e epicurismo, juntamente com uma postura ética e
um constante diálogo entre o passado e o presente.
As formas das obras;
As Poesias de Ricardo Reis seguem sempre uma forma: a ode.
A ode surgiu na Grécia e etimologicamente a palavra “ode” significa
“canção”. Era, pois em regra um poema lérico, frequentemente cantado e
acompanhado por música. Como teve vários autores originais, a ode tomou o nome
desses autores, nas suas diversas variações. Assim temos a ode alcaica (Alceu),
sáfica (Safo), asclépiadeia (Asclepíades) e pindárica (Píndaro).
Da Grécia a ode evolui, em Roma, com Horácio, que utilizou sobretudo a
ode alcaica, com quatro versos. É deste cânone – a estrofe alcaica Horaciana –
que Ricardo Reis tira a sua métrica: odes de quatro versos, dois decassilábicos
e dois hexassilábicos com versos brancos e sem rima. Há exceções, porém esta é
a sua métrica dominante.
A ode define-se também por seguir uma estrutura régida em três partes:
estrofe, antiestrofe e epodo – tema, desenvolvimento (resposta ao tema) e
conclusão do poema.
Análise da Obra;
Vem
sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
(Ricardo Reis)
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimentos demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.
12/06/1914
Poema XII do projeto de 1914.
Ode de certo modo emblemática de Reis, este poema sintetiza em si mesmo
alguns dos principais temas mais queridos a este heterónimo, nomeadamente a
passagem da vida alheia, a quem nela vive e a eterna mudança da realidade, em
que nada permanece alguma vez igual.
É um diálogo do poeta com Lídia. Nota-se que tanto Lídia como o seu
interlocutor são "crianças grandes", que nunca se tocam nem se
beijam. – destaque feito pelo iminente critico Pessoano Angel Crespo.
Os seguintes temas estão nesta Ode:
1) o medo do futuro para além da segurança da infância ("Sofro,
Lídia, do medo do destino);
2) o ideal de "uma vida passiva e silenciosa" (Angel Crespo)
("Deixem-me os deuses minha vida sempre sem renovar);
3) a infância como idade ideal, para os espíritos puros (como ele e
Lídia, ambos simbolicamente crianças) (Ficando eu quase sempre o mesmo/Indo
para a velhice como um dia entre no anoitecer).
A presença de Lídia recorda a fixação do belo, um fino símbolo do amor
presente, mas intocado, que assim permanece eterno.
Reis convida Lídia a sentar-se e convida-a apenas a comtemplação do rio.
O rio é então comparado à vida e a simples metáfora sintetiza na perfeição o
epicurismo filtrado de Reis – a fruição limitada dos prazeres da vida, apenas
na devida dimensão da necessidade racional.
O enlace das mãos – um gesto terno, mas que não toma uma dimensão
sensual, muito menos erótica – representa a união dos dois seres num ato de
pensamento deliberado. Simples como um ritual, o gesto de Reis é simbólico em
si mesmo – a cristalização da infância como período fundamental da vida,
período edílico a que se retorna sempre em temor de dificuldades.
Através deste poema, podemos sentir em Ricardo Reis o
seu esforço de adaptação à vida, numa tentativa de evitar os efeitos do destino. Por isso, a poesia deste
heterónimo tem um tom triste e quase apático
já que o “eu” poético não se permite viver intensamente.
Referencias:
Maria Oliveira
e Maria Pereira; “Fernando Pessoa: O amor interdito?” in Actas do IV Congresso Internacional de Estudos Pessoanos, II Vol.,
Fund. Eng. Antônio de Almeida, 1991.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Alberto Caeiro, o Mestre
Para iniciar
a biografia de hoje, vamos definir o que significa “heterônimo”.
Quando falamos em pseudônimo, falamos em nomes diferentes para uma mesma
personalidade, há quem pense que foi isto o que fez Fernando Pessoa, assinar
sob pseudônimos diferentes, ledo engano, na verdade a façanha de Pessoa foi a
de ter vários heterônimos, que ao contrario de pseudônimos, constituem varias pessoas
em um único poeta. Assim explicou Pessoa: “Por qualquer motivo
temperamental que me não proponho analisar, nem importa que analise, construí
dentro de mim várias personagens distintas entre si e de mim, personagens essas
a que atribuí poemas vários que não são como eu, nos meus sentimentos e
idéias”.
Hoje falaremos do
mestre dos heterônimos e do próprio Fernando Pessoa: Alberto Caeiro.
1-Personagem real
Segundo a
cronologia mais divulgada, Pessoa situou a 16 de Abril de 1889, em Lisboa, o
nascimento de Caeiro. Dentre todos os seus heterônimos este é o mais ignorante
no sentido de ser o menos culto, órfão de pai e mãe, não exerceu nenhuma
profissão e estudou apenas até a 4ª série. Era um homem simples, criado no
campo, viveu grande parte de sua vida no Riba Tejo, na quinta de sua tia-avó
idosa, e nele vivia alheio à alta sofisticação cultural. Teve uma vida curta,
morreu em Lisboa em junho de 1915, quando contava apenas 26 anos, de
tuberculose.
Pessoa
descrevia Caeiro como magro, de estatura média, frágil apesar de não aparentar
o quão o era, não usava barba, era louro e tinha olhos azuis. Segundo toda esta descrição
fica difícil entender o porquê de Alberto Caeiro ser o mestre dos outros
heterônimos e do próprio Fernando Pessoa Ortônimo, mas Pessoa nos explica que
ele é mestre de paganismo, nos ensina uma visão não cristã, não judaica, não espiritualizada
da vida e do mundo. Para Caeiro, o mundo não é um enigma, um mistério que
devemos tentar desvendar, nem o que vemos tem um sentido oculto pro trás das
aparências. Desta forma Caeiro conseguiu submeter o pensar ao sentir e isso lhe
permitiu viver sem dor, envelhecer sem angustia e morrer sem desespero, não
procurava encontrar sentido para as coisas que o rodeavam, era inteiro, não
fragmentado e sentia sem pensar.
Foi o poeta do
real objetivo, pois em suas
obras demonstrava aceitar a realidade e o mundo exterior como são com alegria
ingênua e contemplação, recusando a subjetividade e
a introspecção, o misticismo
foi banido do seu universo; e também foi o poeta da natureza, porque integra-se nas leis do universo
como se fosse um rio ou uma árvore, rendendo-se ao destino e à ordem natural
das coisas.
Demonstrava também através de seus poemas, viver
no presente, não querer saber do passado ou do futuro, apenas de um tempo objetivo
que coincide com a sucessão dos dias e das estações, a natureza é a sua verdade absoluta. Desejava abolir a consciência
dos seus próprios pensamentos (o vício de pensar), pois deste modo todos seriam
alegres e contentes.
Dentre suas
principais características estilísticas estão:
-Estilo discursivo;
-Pendor argumentativo;
-Transformação do abstrato no concreto, frequentemente através da comparação;
-Linguagem simples e familiar;
-Predomínio do Presente do Indicativo;
-Raro uso de metáforas.
Sua obra é composta por 104 poemas, sendo 49
em O guardador de Rebanhos, 6 em O Pastor Amoroso e 49 em Poemas Inconjuntos.
2-Análise da
obra
Quando vier a Primavera
(Alberto Caeiro)
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E sãs arvores não serão menos verdes que na primavera
passada
A realidade não precisa mais de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no
seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobe o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem cantar e dançar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Vamos iniciar a analise deste poema analisando juntamente
as duas primeiras estrofes, temo na primeira: “Quando vier a Primavera,/Se eu já estiver morto,/As flores florirão da
mesma maneira/E sãs arvores não serão menos verdes que na primavera passada/A realidade
não precisa mais de mim.” E na segunda: ”Sinto uma alegria enorme/Ao pensar que a minha morte não tem importância
nenhuma”. Essas duas estrofes fazem introdução ao poema e à uma temática ao
qual Caeiro gostava muito que era a sua posição face a natureza. Sua maior
ambição era deixar de pensar, acreditava demasiadamente na necessidade de
simplificar a vida. Ao descrever a chegada da primavera e imaginar-se morto, o
eu-lirico transmite uma sensação de naturalidade, pois a natureza não pensa e
todos os seus processos são conjuntos e não individuais. Na natureza a ausência
de um ser não para a evolução dos demais, então o eu-lirico pensa que se a
natureza ignora sua morte é porque ela o aceita como seu constituinte.
Na terceira estrofe temos: “Se soubesse que amanhã morria/E a Primavera era depois de amanhã,/Morreria
contente, porque ela era depois de amanhã./Se esse é o seu tempo, quando havia
ela de vir senão no seu tempo?/Gosto que tudo seja real e que tudo esteja
certo;/E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse./Por isso, se
morrer agora, morro contente,/Porque tudo é real e tudo está certo.” E no
quarto: “Podem rezar latim sobe o meu
caixão, se quiserem./Se quiserem, podem cantar e dançar à roda dele./Não tenho preferências
para quando já não puder ter preferências./O que for, quando for, é que será o
que é.” Temos como característica principal nestas estrofes a aceitação do destino, que é um outro ponto fundamental na
visão do mundo de Alberto Caeiro. Na sua visão do mundo o homem não luta contra
o destino, antes, o aceita sem discussão, na sua inevitabilidade. Não aceitar o
destino seria pensar na vida e não aceitá-la tal como ela é. Este objetivismo
absoluto de Caeiro é por vezes difícil de compreender, mas é, também,
imensamente simples.
REFERENCIAS
RODRIGUES,
M., CASTRO, D., ACHCAR, F., JUNIOR, J. de P. R. Literatura Portuguesa. Ed. Ática. 2ª edição. São Paulo, 1997.
quinta-feira, 29 de março de 2012
Fernando Pessoa: vida e produção, trabalhos e análise literária
Fernando Pessoa
1. Além da Obra
1. Além da Obra
Em 13 de junho de 1888, nasceu
Fernando Antônio Nogueira Pessoa que, anos mais tarde, ficaria conhecido como
Fernando Pessoa, um dos maiores poetas portugueses do século XX.
Ainda na infância, depois de
perder o pai e o irmão, Pessoa foi morar na cidade de Durban, na África do Sul,
com sua mãe e seu padastro. Nessa época teve contato tanto com a língua, quanto
com a literatura inglesa, aprendizado que o influenciaria anos mais tarde.
Em 1903, ingressou na Universidade do Cabo, mas
abandonou o curso e voltou em 1905, o poeta voltou a Portugal, lá matriculou-se
no Curso Superior de
Letras, mas também não terminou a graduação.
Pessoa começou a escrever ensaios e, por volta de 1912
iniciou sua colaboração como critico literario. Também trabalhou como editor,
comentador político, inventor, astrólogo, tradutor e publicitário, sem
deixar de escrever suas poesias e prosas.
Fernando Pessoa foi uma pessoa multifacetada, além de ter
atuado em diversas áreas, como já dissemos. Pessoa ficou conhecido por
escrever com diferentes heterônimos.
Sendo assim, nosso poeta criou alguns personagens para criar
sua própria arte que seduz seus leitores até os dias de hoje.
Nosso poeta levou uma vida
discreta, e ainda jovem, com apenas 47 anos, Pessoa faleceu na cidade de Lisboa
em 1935, depois de apresentar sérios problemas de
saúde, provavelmente causados pelo consumo de excessivo
de álcool. Pessoa não foi somente escritor trabalhando com textos em verso
e prosa, trabalhou como Pessoa viveu na África com seis anos, onde aprendeu
inglês.
2. Análise literária
Antes de
apresentarmos poemas e a analise dos poemas, vale apresentar algumas
características do estilo de Fernando Pessoa, lembrando que são apenas
características e o que devemos realmente levar em conta é como esses elementos
se integram dentro da obra levando o leitor ou ouvinte a emoções e sensações
distintas.
- Características Temáticas
. Identidade
perdida
. Consciência do
absurdo da existência
. Tensão
sinceridade/fingimento, consciência/inconsciência, sonho/realidade
. Oposição
sentir/pensar, pensamento/vontade, esperança/desilusão
.
Anti-sentimentalismo: intelectualização da emoção
. Estados
negativos: solidão, cepticismo, tédio, angústia, cansaço, desespero,
frustração.
. Inquietação
metafísica, dor de viver
. Auto-análise
-Características Estilísticas
. Musicalidade:
aliterações, transportes, ritmo, rimas, tom nasal (que conotam o prolongamento
da dor e do sofrimento)
. Verso geralmente
curto (2 a 7 sílabas métricas)
. Predomínio da
quadra e da quintilha (utilização de elementos formais tradicionais)
. Adjetivação
expressiva
. Linguagem
simples, mas muito expressiva (cheia de significados escondidos)
. Pontuação
emotiva
. Comparações,
metáforas originais, oximoros (vários paradoxos – pôr lado a lado duas
realidades completamente opostas)
. Uso de símbolos
(por vezes tradicionais, como o rio, a água, o mar, a brisa, a fonte, as rosas,
o azul; ou modernos, como o andaime ou o cais)
. É fiel à
tradição poética “lusitana” e não longe, muitas vezes, da quadra popular.
. Utilização de
vários tempos verbais, cada um com o seu significado expressivo consoante a
situação.
“Autopsicografia”
(Fernando
Pessoa)
O
poeta é um fingidor
Finge
tão completamente
Que
chega a fingir que é dor
A
dor que deveras sente
E
os que lêem o que escreve,
Na
dor lida sentem bem
Não
as duas que ele teve,
Mas
só as que ele não tem
E
assim nas calhas da roda
Gira,
a entreter a razão,
Esse
comboio de corda
Que
se chama o coração
Vamos iniciar esta analise a partir do
título: psicografia é uma palavra que faz parte do vocabulário “espírita”,
Fernando Pessoa tinha grande interesse pelo esoterismo. Caracteriza-se como a
capacidade dos médiuns em escrever mensagens ditadas por espíritos, é uma
espécie de “escrita automática”. Então nesse caso, autopsicografia, Pessoa é o
espírito que dita para que Fernando Pessoa escreva, é como se o poeta
psicografasse mensagens de um “eu-lirico” e nesse caso o “eu-lirico” é Fernando
Pessoa. Ele tenta desvendar a si mesmo o mistério de sua poesia e a arte de ser
poeta.
Na primeira estrofe: “O poeta é um fingidor/ Finge tão completamente/ Que chega a fingir
que é dor/ A dor que deveras sente”. Pessoa define o poeta como um
“fingidor”, mas não nos iludamos com certezas, isto não quer dizer que todos os
poetas fingem, lembrem-se que se trata de Pessoa falando de si, a si mesmo. É
uma “escrita automática”, apenas descreve o autor, não responde ou explica
nada, mas podemos observar uma revelação, que o fingimento serve para mascarar
a dor. Pessoa sente uma dor que é real, mas através da poesia, que nesse caso
funciona como uma espécie de filtro, a dor é sublimada a ponto de sumir e
parecer fingida. Portanto a partir da poesia a dor já não é mais real, mas
emocionada, raciocinada.
“E os
que lêem o que escreve,/Na dor lida sentem bem/Não as duas que ele teve,/Mas só
as que ele não tem”,
o poeta agora fala de quem lê seus poemas, esse leitor pensa entender e até
mesmo sentir a mesma dor sentida por ele, porém, engana-se, o poeta tem duas
dores, a real e a fingida, enquanto que o leitor não tem nenhuma das duas, ele
apenas sente a ausência da dor em si mesmo e não a dor do poeta. Essa ausência
é a única coisa verdadeiramente sentida por quem lê, visto que a sublimação da
dor em poesia só pode ser sentida por quem sente intimamente esse dor, que o
leva a escrever.
“E
assim nas calhas da roda/Gira, a entreter a razão,/Esse comboio de corda/Que se
chama o coração”,
Pessoa equipara o coração com a dor e com a emoção, o coração sente e “entretém
a razão”. Ou seja, aquilo que o coração sente a razão usa para que o poeta “finja”
e escreva a poesia, esta que segundo Pessoa é a intelectualização da emoção.
Reflexão:
Fernando Pessoa fala nesse poema que a poesia
não traduz aquilo que o poeta sente, mas sim aquilo que ele imagina. O poeta
escreve uma emoção pensada, fruto da razão, não a emoção sentida pelo coração
simplesmente. O leitor por sua vez, não sente nem a emoção vivida pelo poeta e
nem a racionalizada por ele, sente apenas o que na sua própria inteligência é
provocado pelo poema.
Este poema foi escrito em 1930 e publicado em
1932, é um dos poemas mais conhecidos de Pessoa.
“Isto”
(Fernando Pessoa)
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação
Não com o coração
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda
Essa coisa é que é linda
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é
Sentir? Sinta quem lê!
Como em autopsicografia, estamos diante de um
texto que tem como temática o fingimento.
Primeira estrofe: “Dizem que finjo ou minto/Tudo que escrevo. Não/Eu simplesmente
sinto/Com a imaginação/Não com o coração”, o poeta apresenta sua tese, ele
se defende da acusação de fingir o que sente, na verdade ele sente, mas não com
o coração. De certa maneira esta estrofe nos revela a teoria poética Pessoana, Fernando
Pessoa não considerava a poesia a passagem imediata
da experiência à arte, opunha-se a toda a espontaneidade. Por isso, exigia a
criação de uma emoção fingida sobre a emoção experimental.
O poeta, desde que
se propõe escrever sobre uma emoção sentida, deve procurar representar,
materializando-a, não nas linhas espontâneas em que ela se lhe desenhou na
sensibilidade, mas no contorno imaginado que lhe dá, voltando-se para si mesmo
e vendo-se a si próprio como tendo tido certa emoção.
”Tudo o
que sonho ou passo,/O que me falha ou finda,/É como que um terraço/Sobre outra
coisa ainda/Essa coisa é que é linda”, Pessoa na segunda estrofe compara tudo o que
ele vive a um terraço, que seria o mundo real, este terraço esta sobre outra
coisa e esta sim “é que é linda”,
podemos aqui claramente perceber a filosofia platônica que tanto fascina o “eu-
lírico”.
Assim explica-se a necessidade do poeta de
usar a imaginação para fugir do mundo real e assim poder contemplar o mundo
ideal, o perfeito.
Terceira estrofe: “Por isso escrevo em meio/Do que não está ao pé,/Livre do meu
enleio,/Sério do que não é/Sentir? Sinta quem lê!, esta estrofe é iniciada pela expressão por
isso, que tem caráter conclusivo, nela é delineada a situação a que o
“eu-lirico” chega no processo de criação a tarefa do poeta é uma viagem
imaginária e não sentir. O “eu-lirico” se desliga do tema, “livre do meu enleio” e há um ato
de fingimento de pura elaboração estética e o leitor que sinta o que ele
comunica apesar de ele mesmo não sentir.
Reflexão:
Neste poema o sujeito poético utiliza a
imaginação, deixando de parte todas às emoções.
Basicamente, este poema foi escrito como
resposta à falta de compreensão, por parte dos leitores, do poema
“Autopsicografia”. Como tal, no ultimo verso do poema, o sujeito poético
dirige-se aos leitores para salientar a idéia de que a eles caberá um sentir
diferente de poeta, isto é, cada leitor terá a liberdade de sentir o poema como
quiser, seja com emoção, ou com inteligência.
Referências
Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/autor/fernando_pessoa/biografia/>
Acessado em: 26 de março de 2012.
Disponível em: <http:/a/www.suapesquisa.com/biografias/fernando_pessoa.htm>
Acessado em: 26 de março de 2012.
Disponível em: http://www.notapositiva.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://storamjoao.blogspot.com.br>
Acessado em: 27 de março de 2012.
Disponível em: <http://www.umfernandopessoa.com>
Acessado em: 27 de março de 2012.
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